terça-feira, 3 de janeiro de 2012
As luzes desta cidade
Por momentos cheguei mesmo a duvidar do local onde me encontrava. Ainda que estando certo que a porta que fechara atrás de mim ao sair era a do sítio onde vivia haviam já cinco anos, a cidade diante de mim parecia ter-se transformado numa aldeia pelos traços típicos dos horários madrugadores e dos costumes de um povo de hábitos mais matinais que nocturnos e que um após o outro se iam tornando mais evidentes à medida que me deixava arrastar na direcção oposta à do meu porto seguro. Não fossem os imponentes e gigantescos caixotes de betão com janelas, empilhados uns sobre os outros servindo de dormitório aos milhares e milhares de pessoas quais formigas obreiras descansando, e com facilidade me teria convencido a mim próprio de que teria sido sedado e transportado para um local a vários quilómetros de distância.
À parte dos candeeiros das ruas, poucos eram os focos de luz que conseguia ver por entre as janelas dos prédios. O escuro da noite pintava as fachadas dos edifícios, salpicadas de quando em vez por uma luz acesa aqui e outra acolá, talvez alguém mais afortunado que não pertencendo à classe operária estivesse dispensado das obrigações e limitações de um ordinário e mísero salário no fim de cada mês e que num rasgo de rebeldia rompia com a recente decisão colectiva de viver ás escuras e com a monotonia desta mórbida e gélida escuridão que como uma epidemia se espalhava pelas ruas tornando-as solitárias e impessoais.
Continuei a andar. Não havia ponta de luz. Talvez a madrugada tivesse vindo mais cedo render o serão sem que eu me tivesse apercebido da sua sorrateira chegada ou então talvez me tivesse perdido nas horas. Mas era de todo impossível, não havia nem meia hora que me levantara da mesa do jantar que religiosamente tinha tido lugar à mesma hora de todos os dias.
Foi então que percebi... 2011 já nos tinha deixado e levara consigo as suas velhas e desactualizadas taxas de IVA. 2012 havia tomado as rédeas e o IVA sobre a energia eléctrica já estava a 23%...
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3 comentários:
Parece que estás a escrever um texto lamechas até às últimas duas linhas ahah
À conta deste aumento agora só carrego o telemóvel quando vou a casa de amigos. Pelo menos até eles toparem...
Haja creatividade :)
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