terça-feira, 31 de maio de 2011

Das práticas teológicas que me comem a cabeça


Não é novidade que a religião de massas (e é importante fazer esta distinção) me come a cabeça. Mas a delícia das delícias psico-teológicas é quando observamos os pequenos pormenores que as tornam únicas.
Hoje fui a um funeral, prática que se vem tornando recorrente desde que virei a página dos trinta, e pondo de parte as convenções comuns a todas as cerimónias fúnebres, como -  "era uma excente pessoa", "Nosso Senhor só leva os bons", "eramos tão amigos", "gostava tanto dele"... Não há funeral que não tenha algo de único e que empurre ainda mais o conceito de religião na direcção do abismo que eventualmente levará à inexistência total.
O de hoje diz respeito a uma religião que se nega terminantemente a aceitar que deriva de uma outra e cujos "seguidores" altamente extremistas se comportam como hooligans sexualmente limitados, AKA impotentes.
Ora, o finado, centro das atenções do dia de hoje pertenceu a vida toda à religião doravante denominada por RC (religião católica). Os filhos, desde que descobriram a luz resolveram entregar o corpo, a alma, a roupa, o dízimo e a vida de forma geral aos dizeres milenares da religião doravante denominada por TJ (testemunhas de Jeová).
Tudo na cerimónia decorria de acordo com o livro até aparecer o Pároco (RC). Nesta altura, os filhos (TJ) fugiram da sala, quais vampiros fugindo da luz, abandonando a viúva (mãe dos TJ, esposa e ela própria RC) pesarosa e solitária entregue aos seus prantos e sofrimento. Finda a cerimónia e recolhido o sacerdote aos seus aposentos, voltaram a abraçar a mãe como se nunca tivessem abandonado o local.
Estando eu em posição neutra face a este impasse, sinto a cabeça ser comida pela seguinte questão:
- Estando nós em pleno século XXI, já pusemos um tipo na lua, já inventamos uma bebida que ao abanar a embalagem aquece o conteúdo, já encontramos a cura para uma série de vírus que nós próprios criamos, como podemos aceitar uma religião cujos "seguidores" não podem assistir a uma cerimónia de uma outra religião que ainda por cima adora o mesmo Deus ainda que este não se chame Deus?
Faz urticária? Dá dores de cabeça? Dá sono? Dá dores no real?
Não dá, pelo menos os sintomas todos à uma. Por mais que pareçam absurdos os conteúdos das narrativas são uma verdade para alguém e há que respeitar, rigorosamente do mesmo modo que as reuniões das TJ.
Mas o grave no meio de toda esta história é o extremismo e a passividade com que se respeita cegamente os "mandamentos" impostos por uma religião.
A minha religião não permite que entre na Igreja de outra religião. Eu aceito.
A minha religião não permite que assista à cerimónia fúnebre do meu pai pois o Sacerdote pertence a outra religião. Eu aceito.
A minha religião não admite que possa haver outra verdade que não a minha. Eu aceito.
A minha religião não permite que mantenha uma relação afectiva com o meu irmão que foi excomungado da minha religião. Eu aceito.
A minha religião não permite que o meu filho receba uma transfusão de sangue de outra pessoa. Nosso Senhor, ou melhor, Jeová, encarregar-se-á de o salvar. Eu aceito.
A minha religião não permite que eu assista ao casamento da minha única filha, pois esta casará na Igreja de outra religião. E eu aceito...
E EU ACEITO CARA@LHO!
Eu aceito uma religião que me diz que a familia não é importante se não pensar da mesma forma que eu. Da mesma forma, toda e qualquer forma de vida humana ou desumana, animal, vegetal ou mineral, terrena ou espacial, inteligente ou nem por isso, se um dia tiver pensado como eu mas deixar de o fazer é um inimigo com quem não posso em situação alguma relacionar-me. Eu aceito uma put@ de uma religião que me diz que devo correr o risco de deixar morrer o meu filho baseado em crenças e ditos. E eu aceito. Aceito tudo...
Qual cordeiro de um rebanho não serei o tresmalhado.
Toda esta conversa deu-me uma sensação de Dejá-vu... Onde é que eu já ouvi isto? Ahhh..... Ahhhhh.... Ahhhhh já sei.... Chama-se fanatismo. Como aquele dos homens-bomba... E o outro da Cruz Soástica e da raça ariana e tal... Eu sabia que o conceito não era novo.
O conceito já é antigo, não mudou ao longo das décadas. O preocupante é que com a evolução que teve lugar nos últimos anos e a mentalidade a mudar, ainda haja gente que seja capaz de se acomodar e encostar ás outras ovelhas e simplesmente aguardar as ordens do pastor. É preocupante que ainda haja gente capaz de aceitar uma religião que incentiva a desavença entre familiares e amigos em lugar de promover a união.
É acima de tudo muito preocupante que continuamente a religião faça uso da esperança, da fé, da inocência e fraca componente encefálica para subir a escada do poder social ás custas da crença popular. É grave que para alimentar os vicios fétidos de quem domina, os cordeiros do seu rebanho sejam calcados e incentivados a calcar em nome de um Deus que há muito os abandonou...

2 comentários:

Nuno Feliz disse...

Cuidado que a religião e em especial a Católica, não anda a comer apenas a cabeça.

Principalmente aos miúdos.

Jay SRD disse...

Nah... Esses gostam de "meter" a cabeça em todo o lado...