quarta-feira, 2 de maio de 2012
Estado civil
Já não a conseguia ouvir. Era sua mãe, sabia-o, mas ainda assim ela conseguia tornar cada regresso a casa num verdadeiro calvário. Todos os dias, lá vinha com a mesma ladaínha que se repetia noite após noite. Sempre as mesmas frases, sempre as mesmas perguntas, sempre as mesmas acusações.
"Não tens vergonha de chegar a casa nesse "estado?"
" Não apareces em casa durante horas, ninguém sabe de ti e depois apareces assim... Nesse "estado"!"
" Tu não saíste de casa nesse "estado"! E agora? E agora como tencionas resolver isto?"
Não tinha vício de alcool, tabaco ou drogas. Tinha esse único vício que o deixava fora do seu "estado" normal. Sempre que conhecia uma mulher perdia por completo a noção da realidade.
Nesse dia nem discutiu. Depois de passar a euforia que o envolvia sempre que cedia à dependência, sentou-se numa cadeira da cozinha enquanto pensativo ia bebendo o chá que a mãe lhe preparara para o ajudar a acalmar. Ela tinha razão, desta vez havia ido longe demais.
Já tinha chegado a casa noivo, divorciado e até viúvo, nada de grave.
Nessa noite saíra de casa solteiro e voltara casado... Porra!
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