quinta-feira, 6 de março de 2014

Match made in Heaven


Ontem quando cheguei a casa, já as horas da noite iam muito avançadas no relógio.
Já todos dormiam, movi-me devagar pois a estas horas todo o movimento é denunciado pelo silêncio da noite transformando um pontapé numa cadeira na implosão de uma torre do Aleixo. Estava tenso como já não me sentia há uns tempos. Tentava convencer-me que isto fazia parte do passado mas lá no fundo sabia que esta "fome" um dia ia voltar. Foi mais rápido do que previa.
Tomei um banho na esperança de relaxar, com o passar da idade tem-se tornado cada vez mais difícil atingir uma calma que outrora me era natural. Desde há uns anos, vejo-me obrigado a usar truques e fintas para iludir o corpo e a mente no intuíto de encontrar alguma serenidade neste rio revolto em que se tornou a vida.

O banho não funcionou. Não me sentia calmo, não me sentia relaxado e definitivamente não sentia tranquilo! Pelo contrário, a cada segundo que passava sentia os musculos comprimir, os dedos das mãos pareciam ter electricidade, as pernas pareciam ferver e o coração batia com a violência do sino na torre da igreja. Estava atordoado. Sentia-me empurrado do meu corpo e sugado de novo para dentro num movimento repetitivo ritmado pelo bater do coração que parecia querer saltar-me do peito. Sentei-me um pouco no escuro para ver se acalmava mas uma vez mais sem sucesso.

Havia uma alternativa, sempre houve. Mas tinha prometido numa conversa comigo mesmo que não o faria, que fazia parte do passado e que jamais me deixaria cair de novo na tentação. Comecei a suar, a sentir a vista turvar e o cérebro entorpecer. Quinze minutos passaram até que socumbisse à tentação. Desisti de tentar fazer frente a mim mesmo e aceitei a minha fraqueza. Aceitei quem sou, como sou no meu "EU" pleno com todos os meus defeitos e virtudes, com todas as minhas necessidades. Tive que aceitar. Não tinha como me combater.
Preparei uma "dose" e sentei-me no sofá da sala para que nos quartos não me ouvissem e viessem ver o que se passava como já aconteceu antes. Podia dizer que não quero ser responsável por viciar mais ninguém mas ia mentir. Apenas não quero dividir! Não é por ser pouco ou por ser muito, não se prende com isso, é apenas porque não concebo a remota hipotese de dividir.
Divido tudo, empresto tudo, dou tudo. Mas hoje não, não agora e não isto!
Claro que uma dose não chegou para meia missa, nunca chegou, porque havia de chegar hoje? Então preparei outra e outra e ainda mais outra... No fim foram precisas cinco para me deixar completamente saciado. Senti o ritmo cardíaco estabilizar e a temperatura do corpo descer. Aos poucos a clareza dos pensamentos regressou assim como a visão. Agora estava sereno da ponta dos cabelos ás unhas dos pés. Estava feito! Deixei-me ficar por uns minutos sentado no sofá...
Pús-me de pé, havia recuperado o equilíbrio. Sentia-me bem, rejuvenescido. "Pronto para outra" como se diz na linguagem popular.

Arrumei "a louça" e apaguei as luzes.
Enquanto caminhava no escuro em direcção ao quarto, esbocei um sorriso involuntário enquanto pensava - "Foda-se! O cabrão que inventou as bolachas Maria e a manteiga de amendoim merecia um prémio!"

3 comentários:

Sariu disse...

Tenho muitas dessas recaídas, mas já não sou anónima. Agora admito ao mundo que "como uma baca"! Jay, trata-te e vê se chegas masé a horas a casa pá!

Jay SRD disse...

Ó Sara, tens que experimentar bolachas Maria com manteiga de amendoim. As glândulas gustativas até batem palminhas!

Anónimo disse...

Eu fazia isso, quando deixei de fumar. Só que em vez de bolachas, comia amendoins, pão com chouriço e bebia cerveja a altas horas da madrugada. A seguir deitava-me e passada meia hora estava debruçado na sanita, agoniado e de dedos nas goelas a provocar o vómito. Se fizesse isso agora, ao fim de uma semana estava morto. eheheh