quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Ironia da paixão - Parte I





Já o segue há um bom par de horas. Por dentro sente como que uma tensão, uma electricidade, uma força muito superior a si própria. Tenta controlar-se como pode mas a vontade de o magoar é grande e não irá aguentar muito mais tempo. O seu sub-consciente anseia terrivelmente vê-lo sofrer tanto ou mais do que ele a fez sofrer a ela. Quer vê-lo agonizar, sofocar, restejar e pedir misericórdia. O amor que outrora sentiu por ele transfigurou-se neste horrível sentimento, este negro desejo de o martirizar, esta vontade insana de vingança.

O seu mundo e a sua vida têm agora de pano de fundo um cenário pintado a negro, feito de sombras e vultos, rios de sangue correm por entre campos de flores púrpura sob um céu cinzento, pesado e com cheiro de desgraça. Assim é a  vida agora. Do momento que acorda ao momento que se deita todos os seus pensamentos projectam dôr. O seu coração deseja apenas o caos. E tudo, tudo graças a ele!

A tensão e a fúria aumentam à medida que o tempo passa e a distância que os separa físicamente se torna menor. Não resiste mais, não consegue. Fecha os olhos e lança-se sobre ele deixando que a sua mágoa tome as rédeas do seu corpo. Disfere um golpe pelas costas que o deixa quase inconsciente prostado no chão. Sente uma força percorrer o seu corpo como nunca havia sentido antes. Socando e pontapeando vai extravazando toda a fúria e toda a frustração que vem acomulando desde a separação. À medida que o tempo vai passando vai ficando cansada e perdendo as forças até que cai ao lado dele sem forças sequer para levantar o braço uma última vez.
Chora como já não se lembrava de chorar. Aproxima-se dele e com as poucas forças que lhe restam vira-o para si, quer ver a sua cara uma última vez antes de dar este assunto como encerrado e virar uma nova página na sua vida.
O seu coração quase parou ao vê-lo.

"Mas... Mas... Quem é este homem?"
Merda! Merda! Merda!!!

(continua...)

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