Gasparzinho, como lhe chamavam os pais era um previligiado. Talvez até demais.
Desde pequeno que os seus pais criaram todas as condições necessárias para que nunca lhe faltasse rigorosamente nada. Deram-lhe uma infância feliz, com muito carinho, amor e compreensão. Trabalhavam de sol a sol para garantir que o seu menino tivesse tudo que eles nunca tiveram, desde os brinquedos aos telemóveis passando pelas roupas de marca. Garantiram-lhe uma educação nas melhores escolas, fizeram empréstimos para que se formasse e um dia pudesse vir a ser alguém. Aos dezoito anos abdicaram de umas poupanças que tinham feito para "uma dôr de barriga" e ofereceram-lhe o seu primeiro carro. Como estava feliz o seu menino...
Mais tarde, quando Gasparzinho conheceu a mulher com quem viria a casar, ofereceram-lhe um apartamento na baixa da cidade que a custo tinham comprado com o dinheiro proveniente dos vários empregos que ambos tinham.
Casou. A bôda, os pais fizeram questão de lha oferecer. Tudo pelo seu menino.
Os anos foram passando e os seus pais envelhecendo. Cada dia estavam mais doentes e necessitados de cuidados. A casa onde viviam necessitava de obras urgentes dado o avançado estado de degradação que vinha acomulando ao longo dos anos pela inexistente manutenção. O pai começava a apresentar sinais de demência e a mãe já não tinha forças para cuidar dele sozinha.
Era altura de Gasparzinho fazer alguma coisa. Os papéis haviam-se invertido e Gasparzinho fez que tinha que fazer. Abandonou-os, mas não sem antes lhes roubar a casa em que viviam, o carro que ainda apesar de velho ia dando para os pequenos recados do dia-a-dia, o recheio a casa e o PPR que haviam feito para assegurar a velhice.
Afinal de contas eram os seus pais que tanto fizeram por si, que pagaram a sua formação que tão cara foi. Chegara a altura de retribuir tudo o que tinham feito por si e esta era a única forma de o fazer!
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